Tratamento da leucemia Mieloide Aguda na era das Novas Drogas – “How I treat”

Gente, eu juro que sempre volto. Só às vezes a inspiração demora pra vir.

E voltei dessa vez com um artigo que nem é tão novidade assim (é de Janeiro de 2020, veja como é difícil se manter atualizado), mas que eu achei super relevante não só pelo conteúdo, mas por poder falar sobre essa maravilhosa sessão chamada “How I treat” (Como eu trato) de uma das revistas mais influentes na área da hematologia – “Blood” da American Society of Hematology.

Em resumo “How I treat” são artigos feitos por grandes especialistas que se reúnem para falar qual tratamento escolheriam usando exemplos de pacientes reais e inclusive comentando sobre os resultado obtidos, de acordo com a literatura médica mais recente e explicando os porquês citando as referências. Legal, né? 

Vivemos na era do tratamento individualizado, seja por idade, comorbidades, perfil de toxicidade ou até mesmo mutações alvo. Por isso cada vez é mais difícil (ou fácil, dependendo do ponto de vista) escolher o tratamento ideal. Antigamente tínhamos poucas opções e recursos de investigação. Já hoje felizmente vivemos num mundo de informações novas abundantes e que se disseminam na velocidade da luz. Por isso se atualizar e saber procurar o tratamento ideal para o seu paciente é fundamental e artigos como esse facilitam muito a nossa vida. É meio caminho andado, sabe? Sucesso pra quem tem que passar visita, dar conta do consultório, manejar a casa e dar conta de marido e baby ao final do dia.

Então bora pro artigo “How I treat acute myeloid leukemia in the era of new drugs” escrito por Courtney D. DiNardo do MD Anderson Cancer Center Texas/EUA e Andrew H. Wei do Alfred Hospital Melbourne/AUS.

Este artigo, como o título diz, descreve o tratamento da leucemia mieloide aguda no contexto das novas medicações em 2020 em alguns cenários muito frequentes no dia a dia. Ele faz toda uma introdução com dados de estudos, cita revisões anteriores e é bem completo, mas eu vou aqui simplificar mais a vida e dizer as conclusões nos diferentes cenários, pode ser?

1- Paciente de 75 anos com leucemia mieloide aguda (LMA) recém diagnosticada, com as seguintes mutações RUNX1, ASXL1 e SRSF2 (*informação que geralmente não temos na prática) e com insuficiência renal não dialítica (ECOG 2).

Para esse paciente considerando o elevado risco de toxicidade e mortalidade precoce, a opção considerada ideal seria a associação de inibidor de BCL-2 com hipometilantes. A paciente acabou atingindo remissão, mas 30 meses após o diagnóstico a doença retornou e a reavaliação diagnóstica demonstrou novas mutações ainda mais agressivas como a TP53.

2- Paciente de 36 anos, saudável (ECOG 0) com LMA recaída com as mutações NPM1, DN1T3A R882 e FLT3-ITD

Esse paciente foi inicialmente tratado com protocolo “7+3” associado a Midostaurin (inibidor de FLT-3) devido à mutação FLT3, seguido de consolidação com protocolo HiDAC. Atingiu remissão, mas durante a primeira consolidação acabou apresentando recidiva da doença. A dúvida aqui é se seria recomendado troca para outro protocolo mais agressivo. Porém devido ao perfil de mutações agressivas do paciente foi optado por trocar o inibidor de FLT-3 para Gliteritinib. O paciente atingiu remissão após 3 ciclos e foi encaminhado para transplante de medula. Suspendeu o Gliteritinib pré transplante e retomou 45 dias. Paciente estava em remissão há 8 meses na data da publicação do artigo.

3- Paciente de 78 anos com LMA recaída e mutação IDH-1.

Paciente inicialmente tratada com hipometilantes atingido resposta com 5 ciclos, porém com recaída após 9 ciclos. Questionado então se o tratamento deveria ser quimioterapia ou inibidor de IDH-1 mutante (Ivosidenib). Os autores optaram pelo Ivosidenib. A paciente teve várias complicações como síndrome de lise tumoral, mas conseguiu contornar e seguia em remissão há 12 meses na publicação do artigo.

E na conclusão do artigo os autores comentam que o tratamento da Leucemia Mieloide Aguda teve uma mudança sem precedentes visto que ficamos anos sem novas medicações aprovadas e somente em 2017 os Estados Unidos registraram pelo menos 8 novas medicações. Até então o tratamento mais eficiente e “novo” aprovado para LMA era de antes dos anos 2000.  Ou seja, tudo o que eu aprendi na minha formação médica ignorava esses tratamentos, simplesmente porque eles não existiam. Por isso a mensagem que fica é FUNDAMENTAL atualização sempre e buscar meios de facilitar a vida com sessões como essa. #ficadica

Esse foi longo, eu sei, mas o assunto é complexo e merecia.

Espero que você tenha gostado e que compartilhe com quem precisa saber essas informações.

Abraço e até a próxima.

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